terça-feira, 27 de julho de 2010

A Casa de Pedra

Um livro é como uma janela. Uma janela aberta para outra vida que não é a sua. Você está do lado de fora, olhando por aquela janela e enquanto está lá, acompanha toda a trama da vida de outros!
É maravilhoso esse voyeurismo permitido, onde todas as situações e emoções alheias são conhecidas por você, enquanto aos participantes só resta o conhecimento dos próprios pensamentos – ela pensou isso, repentinamente, enquanto fumava um cigarro olhando o jardim, sentada na sua cadeira favorita no terraço da casa de pedra.
A nossa própria vida era feita de muitas janelas e nós abríamos ou fechávamos muitas delas quando nos era conveniente. Seria mais ou menos – e aí ela riu sozinha – como o Windows: fecha uma janela, abre outra janela, volta à primeira, deleta tudo; tempo depois, torna abrir...
O dia estava meio frio, nem parecia que era já meio dia. O vento soprava suave, porém ,o farfalhar das plantas indicava uma provável chuva, o que faria a temperatura cair mais um pouco. Ela gostava disso. Lembrou que há muito tempo, havia sonhado com tardes assim! A solidão e a contemplação haviam sido, desde criança, suas companheiras mais queridas e mais amigas!
A ela, faltou muitas vezes, o local propício para usufruir desses prazeres e apenas concebia, em sonhos, como gostaria que fosse o seu refúgio. Muitas vezes, não acreditou ser possível reunir a solidão, a contemplação, o verde, os sons da natureza e o som do próprio coração num local feito de pedra, madeira, fogo, terra, ar e água juntos.
A vida, porém, terminou por mostrar-lhe que não é mentira que alguns sonhos sonhados no fundo do coração terminam por materializar-se. Com ela havia sido assim.
Quando a descrença tomou-lhe a alegria de viver e quando nada mais parecia valer à pena, lá, de onde não se enxerga mais a luz e apenas uma tênue, mais muito tênue esperança ainda resiste, é que aconteceu a mudança!
Quando o coração já não queria mais sonhar e as lágrimas de tão freqüentes tornaram-se insípidas; quando a vontade de dormir, comer e não mais pensar era as únicas coisas que importavam, aconteceu a transformação, a transmutação do profano em sagrado; do sonho em realidade...
Ela fechou os olhos, usufruindo daquele momento em que tudo era perfeito.

(Nereida Coelho)

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