quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"O BONECO DE SAL"


                    

   Existe uma história budista que fala de um boneco de sal, que ouvira falar, lá nos fundões do seu ignoto país,  da imensidão do mar. Curioso, excitado, o boneco quis ver pessoalmente se o mar era tão maravilhoso quanto o pintavam e tão grande quanto o descreviam. Houve até quem tentasse desestimulá-lo da aventura, mas em vão. Decidido, um dia, largou - diz a história - sua terrinha, e, entre quixotesco e desconfiado, partiu em busca do desconhecido .
                            Muitos dias depois, quando o sol já começava a espreguiçar-se, ei-lo plantado, de olhos arregalados e alma lavada, diante do mar; do grande mar!
                             A um primeiro momento, meio escabreado, ficou a distância, medindo aquela amplidão quase sem limites e olhando de soslaio, meio assustado, para o estridor das ondas a desfazerem-se em espumas branquinhas na preguiça da areia. Depois, ainda precavido, mas já com a curiosidade acordada, foi-se achegando devagarinho para mais perto, tão perto que uma onda deu-lhe uma lambida no pé, deixando-lhe a impressão de lhe te roubado alguma coisa. Doeu , mas, ao mesmo tempo, experimentou uma estranha sensação que lhe aumentou a excitação, empurrando-o mais para dentro, para o seio daquele mar imenso, de águas moles e mistérios profundos. Isto foi o fim que não queria e um novo começo pelo qual não esperava.
                            Fascinado, e sem se dar conta de que o mar ia-lhe comendo, a cada abraço de novas ondas, um novo pedaço de seu corpo de boneco de sal, foi se adentrando e, diz a história, que começou a entender, a cada passo que dava, que não haveria mais retorno. Sua comunhão com o mar foi se tornando tão estreita e tanta que, de repente, já  não sabia distinguir quem era quem, onde começava ele mesmo e onde terminava o mar. As coisas pareciam embaralhar-se em sua cabeça, ao mesmo tempo em que se sentia bem e feliz. E , antes que uma última onda o engolisse de vez e o fizesse mar para sempre, ainda teve tempo de exclamar, esquecido de sua terra, de suas curiosidades e de si mesmo: "Oh, grande e maravilhoso mar! Meu Deus, o mar não serei eu?"


(extraído do livro "Graça sobre Graça ", de Neylor J. Tonin


"Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar..." ( Gibran)

6 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

Nereida,

Encantada esta história do Boneco de Sal.
O que ela me diz: o sal não está só em nossas lágrimas e no mar. Está na nossa essência, ele é a vida. Cada vez que uma lágrima nossa tomba no mar este transborda, cantando a vida!
Sem o sal, a vida perderia o gosto com que foi criada!
BJS, querida amiga

aapayés disse...

Me gustan estos post ..

Siempre es un agrado pasar por tu blog..


Un abrazo
Con mis
Sañudos fraternos..

Tathyana Zimmermann Fernandes disse...

"O sal da vida". Essa frase tão presente em diversas religiões nos diz que esse elemento químico está presente em tudo, ele tempera, ele preserva (lembremos que as múmias egípcias eram embalsamadas em natrão - que é um sal) e dá sabor. Ele deve ser utilizado com comedimento e o "sal"ário também deve ser usado com responsabilidade para evitarmos dívidas e problemas.

Enfim... esse produto que já foi símbolo de prosperidade e está presente em nossas vidas, em nosso corpo, em nossas lágrimas e no mar... essa região ancestral de todos nós.

Poxa...viajei...mas, continuando com a viagem...lembre que Nereida significa literalmente "sereia".

Então, minha irmã do mar e do sal (por que não?)...
M
Mil beijos de luz e paz.

Luma D. disse...

Nereida, vou aguardar o visual natalino e tenho certeza que ficará lindo.

Beijos, ótimo fim de tarde.

Tathyana Zimmermann Fernandes disse...

Oi queridíssima

Pois é...também sou novata :)

Bem, eu hospedei o selinho no http://my.imageshack.us

Mas, não sei como fazer para recuperá-lo por lá.
Mas, se você quiser copiar diretamente do blog...ele está logo abaixo do link do Gentileza.

Espero que dê certo...qualquer coisa eu tenho hospedar de novo.

Grandes Beijos

Irene Moreira disse...

Muito interessante a história e tudo tem um fundamento e acredito que mesmo que o boneco como assim terminou dizendo "Oh, grande e maravilhoso mar! Meu Deus, o mar não serei eu?" ... com isso podemos também pensar que o boneco de sal pode retornar pela mão do homem. ... estranho, sagrado ... sal no mar e nas lágrimas ... só Gibran. Beijos

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