sábado, 21 de dezembro de 2013

Sim Virgínia, papai noel existe!



Numa manhã de setembro do ano de 1897, o redator-chefe do jornal nova-iorquino The Sun encontrou sobre sua mesa de trabalho a seguinte carta de uma menina de oito anos:

Prezado Sr. Redator:
Tenho oito anos de idade. Algumas de minhas amigas sempre me dizem que não existe o Papai Noel. Porém, meu pai afirma que se essa existência o The Sun confirmar, então é certo que existe o Papai Noel. Por favor, diga-me a verdade: existe mesmo o Papai Noel? 
Virginia O’Hanlon

Francis Church, redator do The Sun, com relutância e hesitação tomou a si a tarefa de responder à carta de Virginia. Contudo, tendo começado a escrever, as palavras saltaram rápidas sobre o papel, e assim surgiu a seguinte carta:
Virginia:
Tuas amigas não têm razão. Elas sofrem de uma doença péssima e que mais tarde trar-lhes-á ainda muitas dores. Toma cuidado para que essa doença não te pegue. Trata-se de uma doença de alma. Nós, os adultos, chamamo-la de incredulidade, espírito de crítica, falta de inocência. Tuas amigas e outras pessoas que tentaram te convencer pensam que são sábias e espertas, porque só admitem como real aquilo que podem ver com os olhos e tocar com as mãos. Contudo, elas não sabem quão pouco é isso!
Ora, pequena Virginia, imagina todo este imenso globo terrestre com seus lagos e montanhas, com seus rios e mares, e, pairando sobre nossas cabeças, o céu infinito com suas miríades e miríades de estrelas. Imagine quantas espécies de seres existem no mar, nos ares e sobre a terra. O homem é apenas um entre milhares de seres, e ademais quão pequeno! Diante das imensidões do universo, ele é pouco mais do que um besouro ou uma formiga. Como então pode o homem ver tudo o que existe e com seu pequeno entendimento querer explicar todas as coisas?
Sim, Virginia, existe o Papai Noel! Tão certamente quanto existem o carinho e a alegria, o amor e a bondade, os quais, porém, não podemos ver com nossos olhos e apalpar com nossas mãos. Mas tudo isso existe. Tu mesmo já os experimentaste. E não trazem eles beleza e alegria em tua vida?
Ah, como seria triste o mundo sem o Papai Noel! Tão triste como se não houvesse mais Virginias, como se não houvesse mais os contos de fadas, os anjos, as canções, as histórias infantis escritas pelos poetas. Ou, pelo contrário, só houvesse gente que jamais se encanta com nada, que jamais sorri! Então estaríamos todos perdidos. E aquela luz eterna, que jamais se apaga, com a qual as crianças iluminam o mundo e que acompanha toda criancinha que nasce, esta apagar-se-ia para sempre.
Não acreditar no Papai Noel?! Então ninguém mais precisaria crer em fadas e anjos. Tu poderias convencer teu pai a colocar vigias diante de cada chaminé, na noite de Natal, para que eles pudessem agarrar o Papai Noel. O que ficaria então provado se eles não o vissem descer pela chaminé? Ora, ninguém vê o Papai Noel! Isso porém não prova que ele não existe. As coisas que neste mundo são verdadeiramente reais, não as podem ver nem crianças nem adultos. Já viste alguma vez uma fada dançar sobre os prados floridos? O fato de não a teres visto não prova que a fada não dance na pradaria. Ninguém pode compreender todas as maravilhas invisíveis do universo.
Tu podes bem desmontar um chocalho de bebê, a fim de ver como se produz propriamente o ruído das pedrinhas que se chocam umas contra as outras. Porém, sobre o mundo invisível há um véu estendido, o qual não pode ser rasgado nem mesmo pelo homem mais forte da terra, e nem sequer pela força conjunta de todos os homens fortes de todas as épocas. Somente a fé e a caridade podem levantar um pouquinho a ponta deste véu e assim contemplar a beleza e o esplendor sobrenaturais que se escondem atrás dele.
Será tudo isso realidade? Ó, Virginia, sobre a Terra não há nada de mais real, de mais verdadeiro do que isso! Graças a Deus que o Papai Noel vive e viverá eternamente! Nos próximos mil anos – oh! que digo, pequena Virginia –, nos próximos 10 mil anos multiplicados por outros tantos mil anos, o Papai Noel continuará a fazer com que os corações puros das crianças se alegrem e batam com mais força na abençoada noite de Natal.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

É Proibido



É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
( Pablo Neruda)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

BOCA


Boca morena
Boca rosada
Boca felina
Boca calada

Boca faminta
Boca que morde
Boca bonita
Boca que agride

Boca que peca
Boca que consola
Boca noutra boca
Boca parada

Boca que chora
Boca que sussurra
Boca que larga
Cascatas de risos
Boca que liberta
Cascatas de prantos

Boca suave
Boca cruel
Boca que inspira
Boca assassina
Boca que procura
Boca


(Nereida Coelho)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ACREDITAR




" Fizeram a gente acreditar que amor mesmo,
  amor pra valer, só acontece uma vez ,
 geralmente antes dos 30 anos. 
Não contaram pra nós, que amor não é acionado,
 nem chega com hora marcada.
 Fizeram a gente acreditar, que cada um de
 nós é a metade de uma laranja, e que a vida
só ganha sentido quando encontramos a
outra metade.
Não contaram, que já nascemos inteiros,
que ninguém em nossa vida merece carregar
nas costas a responsabilidade de completar
o que nos falta: a gente cresce através da
gente mesmo. Se estivermos em boa companhia
é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar, que só há uma
fórmula de ser feliz, a mesma para todos,
e os que escapam dela estão condenados
à marginalidade. Não contaram que estas
fórmulas dão errado, frustram as pessoas,
são alienantes, e que podemos tentar outras
alternativas.
Cada um vai ter que descobrir sozinho.
E aí, quando você estiver muito apaixonado
por você mesmo, vai poder ser muito feliz
e se apaixonar por alguém."


(Martha Medeiros )

sábado, 18 de junho de 2011

...quando...

Tudo acabou, quando nem tinha começado
Você se foi , quando ainda nem tinha vindo
Nosso amor ficou no tempo , quando nem tempo
teve para expandir-se

Eu fiquei , aqui, parada, quando tenho pernas
para ir até você
Fiquei parada e calada
porque a voz está encarcerada na garganta
E porque não tenho nada para falar, quando
não sou nada e me sinto a carcereira de mim mesma

Meu coração quase não pulsa, quando
poderia bater tão forte quanto
a solidão que agora  bate  à minha porta;
Nada posso, nada mais desejo, quando 
tudo se resume à você !

( Nereida Coelho)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

DO MUNDO VIRTUAL PARA O ESPIRITUAL



DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL

Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?” Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã…” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse”: “Tenho aula de meditação!”
Estamos construindo super-homens e super-mulheres totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um super-executivo se não se consegue se relacionar com as pessoas.
Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação! Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!”
Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? Antes, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade.
Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real!
É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais. A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.
A palavra hoje é “entretenimento”; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas… Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno… Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s.
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores, como vocês, o assediavam, ele respondia”:
“Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”





domingo, 16 de janeiro de 2011

UM GRANDE HOMEM ( Arnaldo Jabor)

Nós, homens, caracterizamos-nos por ser o sexo forte, embora, muitas vezes caiamos por debilidade. Um dia, minha irmã chorava em sua casa...  Lembrando, com muita saudade, observei que meu pai chegou perto dela e perguntou o motivo de sua tristeza. Escutei-os conversando por horas, mas houve uma frase tão especial que meu pai disse naquela tarde, que até o dia de hoje ainda me recordo a cada manhã e que me enche de força.

Meu pai acariciou o rosto dela e disse: “Minha filha, apaixone-se por um grande homem e nunca mais voltará a chorar".
Perguntei-me tantas vezes, qual era a fórmula exata para chegar a ser esse grande homem e não deixar-me vencer pelas coisas pequenas...
Meu pai, na verdade,  dizia-lhe:

"Não se apaixone por um homem que só fale de si mesmo, de seus problemas, sem preocupar-se com você... Enamore-se de um homem que se interesse por você, que conheça suas forças, suas ilusões, suas tristezas e que a ajude a superá-las;

Não creia nas palavras de um homem quando seus atos dizem o oposto;
Afaste de sua vida um homem que não constrói com você um mundo melhor. . Ele jamais sairá do seu lado, pois você é a sua fonte de energia...

Fuja de um homem enfermo espiritual e emocionalmente, é como um câncer matará tudo o que há em você (emocional, mental, física, social e economicamente);

Não dê atenção a um homem que não seja capaz de expressar seus sentimentos, que não queira lhe dar amor;

Não se agarre a um homem que não seja capaz de reconhecer sua beleza interior e exterior e suas qualidades morais;

Não deixe entrar em sua vida um homem a quem tenha que adivinhar o que quer, porque não é capaz de se expressar abertamente;

Não se enamore de um homem que, ao conhecê-lo, sua vida tenha se transformado em um problema a resolver e não em algo para desfruta;

Não se apaixone por um homem que demonstre frieza, insensibilidade, falta de atenção com você. Corra léguas dele!!!

Não creia em um homem que tenha carências afetivas de infância e que trata de preenchê-las com a infidelidade, culpando-a, quando o problema não está em você, e sim nele, porque não sabe o que quer da vida, nem quais são suas prioridades;

Por que querer um homem que a abandonará se você não for como ele pretendia, ou se já não é mais útil?

Por que querer um homem que a trocará por um cabelo ou uma cor de pele diferente, ou por uns olhos claros, ou por um corpo mais esbelto?

Por que querer um homem que não saiba admirar a beleza que há em você, a verdadeira beleza… a do coração?            
            Hoje minha irmã está casada e feliz, e esse grande homem com quem se casou, não era nem o mais popular, nem o mais solicitado pelas mulheres, nem o mais rico ou o mais bonito. Esse grande homem é simplesmente aquele que nunca a fez chorar… É QUEM, NO LUGAR DE LÁGRIMAS, LHE ROUBOU SORRISOS…Sorrisos por tudo que viveram e conquistaram juntos, pelos triunfos alcançados, por suas lindas recordações e por aquelas tristes lembranças que souberam superar, por cada alegria que repartem e pelos 3 filhos que preenchem suas vidas.
              Esse grande homem ama tanto a minha irmã que daria o que fosse por ela sem pedir nada em troca...Esse grande homem a quer pelo que ela é, por seu coração e pelo que são quando estão juntos.
              Aprendamos a ser um desses grandes homens, para vivenciar os anos junto de uma grande mulher e NADA NEM NINGUÉM NOS PODERÁ VENCER!
            Envio esta mensagem aos meus amigos homens, para que lhes toque o coração e tratem de fazer crescer esse grande homem que vive dentro deles.E às minhas amigas mulheres para que saibam escolher esse grande homem que Deus tem para elas!
( Arnaldo Jabor)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DESEJO

Desejo, primeiro, que você ame,
e que, amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que você tenha amigos
que, mesmo maus e inconsequentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que pelo menos em um deles
você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos,
nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes,você se interpele a respeito
de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo, depois, que você seja útil,
mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
não amadureça depressa demais,
e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer,
e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste.
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso
e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
com a máxima urgëncia,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
erguer triunfante o seu canto matinal,
porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompenhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas
muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloque um pouco dele
na sua frente e diga "isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.
Desejo por fim que você, sendo um homem,
tenha uma boa mulher,
e que, sendo uma mulher,
tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
não tenho mais a te desejar.

(Victor Hugo )

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Discussão marital entre Juiz e Advogada

Desajeitado, o magistrado Dr. Juílson tentava equilibrar em suas as mãos, uma coca-cola, um pacotinho de biscoitos e uma pasta de documentos.
Com toda esta tralha, dirigir-se-ia para seu gabinete, mas ao dar meia volta deparou-se com sua esposa, a advogada Dra. Themis, que já o observava há sabe-se lá quantos minutos. O susto foi tal que a coca, os biscoitos e os documentos foram ao chão. O juiz franziu o cenho e estava pronto para praguejar, quando observou que a testa da mulher era ainda mais franzida que a sua.
Por se tratarem de dois juristas experientes, não é estranho que o diálogo litigioso que se instaurava obedecesse aos mais altos padrões de erudição processual.
Esposa:
- Juílson! Eu não aguento mais essa sua inércia. Eu estou carente, carente de ação, entende?
Juiz:
- Carente de ação? Ora, você sabe muito bem que, para sair da inércia, o Juízo precisa ser provocado e você não me provoca, há anos. Já eu dificilmente inicio um processo sem que haja contestação.
Esposa:
- Claro, você preferia que o processo corresse à revelia. Mas não adianta, tem que haver o exame das preliminares, antes de entrar no mérito. E mais, com você o rito é sempre sumaríssimo, isso quando a lide não fica pendente... Daí é que a execução fica frustrada.
Juiz:
- Calma aí, agora você está apelando. Eu já disse que não quero acordar o apenso, no quarto ao lado. Já é muito difícil colocá-lo para dormir. Quanto ao rito sumaríssimo, é que eu prezo a economia processual e detesto a morosidade. Além disso, às vezes até uma cautelar pode ser satisfativa.
Esposa:
- Sim, mas pra isso é preciso que se usem alguns recursos especiais. Teus recursos são sempre desertos, por absoluta ausência de preparo.
Juiz:
- Ah, mas quando eu tento manejar o recurso extraordinário você sempre nega seguimento. Fala dos meus recursos, mas impugna todas as minhas tentativas de inovação processual. Isso quando não embarga a execução.
Mas existia um fundo de verdade nos argumentos da Dra. Themis. E o Dr. Juílson só se recusava a aceitar a culpa exclusiva pela crise do relacionamento. Por isso, complementou:
Juiz:
- Acho que o pedido procede, em parte, pois pelo que vejo existem culpas concorrentes. Já que ambos somos sucumbentes vamos nos dar por reciprocamente quitados e compor amigavelmente o litígio.
Esposa:
- Não posso. Agora existem terceiros interessados. E já houve a preclusão consumativa.
Juiz:
- Meu Deus! Mas de minha parte não havia sequer suspeição!
Esposa:
- Sim. Há muito que sua cognição não é exauriente. Aliás, nossa relação está extinta. Só vim pegar o apenso em carga e fazer remessa para a casa da minha mãe.
E ao ver a mulher bater a porta atrás de si, Dr. Juílson fica tentando compreender tudo o que havia acontecido. Após deliberar por alguns minutos, chegou a uma triste conclusão: - É.. e eu é quem vou ter que pagar as custas...
(Autor Desconhecido)

domingo, 17 de outubro de 2010

Experimente amar-me...


Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

(Martha Medeiros)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

mulher de peixes - vinicius de morais

*PEIXES*
(de 20 de fevereiro a 20 de março)

"Mulher de Peixe... peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista."

(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

HOMEM- PÁSSARO

Por onde andas, inesquecível homem?
Em que estradas estás a levantar poeira?
Por que te escondes? De que tens medo?
Não será triste esse teu eterno caminhar?
Esses voôs sem bando, sem companhia?
De que te vale as conquistas do céu, do mar, dos homens ,
de ti mesmo, se te recusas a ter alguém para
compartilhar os louros das vitórias...
E a tua perseverança em esquecer as coisas
que um dia foram uma realidade?
Como o é agora, àquela árvore ali, adiante
onde, num breve pouso descansarás as tuas
asas, que apelidastes de liberdade...

Não, não sei de que te vale tão efemeros momentos...
Onde não tens tempo de conhecer a terra
que casualmente pousastes, nem a sombra
que amigavelmente te acolhe...
Não te sentes sozinho, quando a mente te abandona
e se põe a divagar entre mundos distantes
e seres diferentes?
E o mêdo? Deves ter mêdo...
Não àquele mêdo, que todos nós temos,
Mas um mêdo maior, mais terrível...
O mêdo...
O mêdo...de seres conquistado!

Um frio te percorre a espinha
com a idéia pavorosa da conquista
dos teus passos, dos teus voôs!
Era como se fosse um pássaro tolhido
em pleno voô...
Só com a idéia pavorosa desse momento
Tu te levantas da sombra já mencionada,
E num caminhar cada vez mais lento,
mais curvado
Já com as asas desgastadas pelo uso
E pela poeira dos teus próprios atos,
Segues em frente, deixando atrás de si
Marcas do seu breve pouso,
Além de um lugar vazio, que , quem sabe
só será ocupado pelo vendaval
da saudades, o redemoinho do passado
Que de quando em quando
se faz presente!

Sabe, irriquieto pássaro
minha admiração por ti é infinita...
Tu aprendeste a amar a tua própria companhia...
Pena, que para isso, tenhas desgastado tanto
a tua liberdade!

( Nereida Coelho )

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

VERSO NÚ

Meu verso é torto
Não tem rima
Não tem métrica
Meu verso cavalga nú
sobre as palavras
E ao vêr-se, assim, nú
Sem disfarces ou fantasias
Meu verso torna-se tímido
E arredio
E para não se expor
Meu verso vai buscar
Em verso alheio, àquilo
Que ele sente

( Nereida Coêlho )

domingo, 10 de outubro de 2010

TRISTEZA E CHOCOLATES

            
 Hoje partilho a minha tristeza com deliciosos chocolates...eles entendem um ao outro e sendo assim, sinto-me livre para vivenciar  essas duas experiências! A tristeza é sentimento que vez por outra infiltra-se no meu íntimo, provocada por fatores externos ou por movimento cíclicos internos. O chocolate, nesses momentos , é o parceiro perfeito, sob medida, para servir-lhe de companhia. E dane-se dieta, boa forma , colesterol, que o importante, agora é acalentar-me, mimar-me, adoçar o amargor interno...do resto , cuidamos depois!

domingo, 3 de outubro de 2010

O que ele vê nela? E ela, nele?

E o que é que ela vê nele? Nossos amigos se interrogam sobre nossas escolhas, e nós fazemos o mesmo em relação às escolhas deles. O que é, caramba, que aquele Fulano tem de especial? E qual será o encanto secreto da Beltrana?
Vou contar o que ela vê nele: ela vê tudo o que não conseguiu ver no próprio pai, ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem, ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente, ela vê que os olhos dele franzem na hora de ler um livro e mesmo assim o teimoso não procura um oftalmologista, ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros.
Agora vou contar o que ele vê nela: ele vê, sim, que o corpo dela não é nem de longe parecido com o da Daniella Cicarelli, mas vê que ela tem uma coxa roliça e uma boca que sorri mais para um lado do que para o outro, e vê que ela, do jeito que é, preenche todas as suas carências do passado, e vê que ela precisa dele e isso o faz sentir importante, e vê que ela até hoje não aprendeu a fazer um rabo-de-cavalo decente, mas faz um cafuné que deveria ser patenteado, e vê que ela boceja só de pensar na palavra bocejo e que faz parecer que é sempre primavera, de tanto que gosta de flores em casa, e ele vê que ela é tão insegura quanto ele e é humana como todos, vê que ela é livre e poderia estar com qualquer outra pessoa, mas é ao seu lado que está, e vê que ela se preocupa quando ele chega tarde e não se preocupa se ele não diz que a ama de 10 em 10 minutos, e por isso ele a ama mesmo que ninguém entenda.

(Martha Medeiros)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Facebook | Nereida Coelho

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A razão e a Paixão

"E a sacerdotisa adiantou-se novamente e disse: "Fala-nos da razão e da paixão". E ele respondeu, dizendo: Vossa alma é freqüentemente um campo de batalha onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite. Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma, transformando a discórdia e a rivalidade entre vossos elementos em união e harmonia. Mas como poderei fazê-lo, a menos que vós mesmos sejais também pacificadores, mais ainda, enamorados de todos os vossos elementos?
Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.
Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.
Gostaria que tratásseis vosso juízo e vosso apetite como trataríeis dois hóspedes amados em vossa casa. Certamente não honraríeis um hóspede mais do que o outro; pois quem procura tratar melhor um dos dois, perde o amor e a confiança de ambos.
Entre as colinas, quando vos sentardes à sombra fresca dos álamos brancos, compartilhando a paz e a serenidade dos campos e dos prados distantes, então que vosso coração diga em silêncio: "Deus repousa na razão". E quando bramir a tempestade, e o vento poderoso sacudir a floresta, e o trovão e o relâmpago proclamarem a majestade do céu, então que vosso coração diga com temor e respeito: "Deus age na paixão". E já que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, vós também devereis descansar na razão e agir na paixão."

( Gibran Khalil Gibran)

sábado, 4 de setembro de 2010

Para quem tem coragem

Explêndido artigo do "Mestre" Rubens Alves. E oportuno.
http://www.rubemalves.com.br/ganheicoragem.htm

sábado, 31 de julho de 2010

Anúncio

Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.




 (Clarice Lispector )

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Casa de Pedra

Um livro é como uma janela. Uma janela aberta para outra vida que não é a sua. Você está do lado de fora, olhando por aquela janela e enquanto está lá, acompanha toda a trama da vida de outros!
É maravilhoso esse voyeurismo permitido, onde todas as situações e emoções alheias são conhecidas por você, enquanto aos participantes só resta o conhecimento dos próprios pensamentos – ela pensou isso, repentinamente, enquanto fumava um cigarro olhando o jardim, sentada na sua cadeira favorita no terraço da casa de pedra.
A nossa própria vida era feita de muitas janelas e nós abríamos ou fechávamos muitas delas quando nos era conveniente. Seria mais ou menos – e aí ela riu sozinha – como o Windows: fecha uma janela, abre outra janela, volta à primeira, deleta tudo; tempo depois, torna abrir...
O dia estava meio frio, nem parecia que era já meio dia. O vento soprava suave, porém ,o farfalhar das plantas indicava uma provável chuva, o que faria a temperatura cair mais um pouco. Ela gostava disso. Lembrou que há muito tempo, havia sonhado com tardes assim! A solidão e a contemplação haviam sido, desde criança, suas companheiras mais queridas e mais amigas!
A ela, faltou muitas vezes, o local propício para usufruir desses prazeres e apenas concebia, em sonhos, como gostaria que fosse o seu refúgio. Muitas vezes, não acreditou ser possível reunir a solidão, a contemplação, o verde, os sons da natureza e o som do próprio coração num local feito de pedra, madeira, fogo, terra, ar e água juntos.
A vida, porém, terminou por mostrar-lhe que não é mentira que alguns sonhos sonhados no fundo do coração terminam por materializar-se. Com ela havia sido assim.
Quando a descrença tomou-lhe a alegria de viver e quando nada mais parecia valer à pena, lá, de onde não se enxerga mais a luz e apenas uma tênue, mais muito tênue esperança ainda resiste, é que aconteceu a mudança!
Quando o coração já não queria mais sonhar e as lágrimas de tão freqüentes tornaram-se insípidas; quando a vontade de dormir, comer e não mais pensar era as únicas coisas que importavam, aconteceu a transformação, a transmutação do profano em sagrado; do sonho em realidade...
Ela fechou os olhos, usufruindo daquele momento em que tudo era perfeito.

(Nereida Coelho)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Alma...

... E o Deus dos deuses separou de si mesmo uma alma e a dotou de beleza.
E deu-lhe a suavidade da brisa matinal e o perfume das flores do campo e a doçura do luar.
E entregou-lhe a taça da alegria, dizendo-lhe: "Só poderás beber desta taça se esqueceres o passado e não te preocupares com o futuro." E entregou-lhe a taça da tristeza, dizendo: "Bebe dela, e compreenderás a essência da alegria da vida."
E soprou nela um amor que a abandonaria ao primeiro suspiro de saciedade, e uma meiguice que a abandonaria à primeira manifestação de orgulho.
E fez descer sobre ela, do céu, um instinto que lhe revelaria os caminhos da verdade.
E depositou nas suas profundezas uma visão que vê, o que não se vê.
E criou nela sentimentos que deslizam com as sombras e caminham com os fantasmas.
E vestiu-a de um vestido de paixão que os anjos teceram com as ondulações do arco-íris.
E colocou nela as trevas da dúvida, que são as sombras da luz.
E tomou fogo da forja do ódio, e ventos do deserto da ignorância, e areia do mar do egoísmo, e terra pisada pelos pés dos séculos e amassou todos esses elementos e fez o homem.
E deu-lhe uma força cega que se inflama nas horas de loucura e desvanece diante das tentações.
Depois, depositou nele a vida, que é o reflexo da morte.
E sorriu o Deus dos deuses, e chorou, e sentiu um amor incomensurável e infinito e uniu o homem e a alma.

( Gibran Khalil Gibran )

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Segredo

"Vou tomar um banho antes de sair e perfumar-me com um perfume que é segredo meu. Só digo uma coisa dele: é agreste e um pouco áspero, com doçura escondida." 

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

INVICTUS

Gente, que filme  maravilhoso! Que Poema maravilhoso! Que homem é, o Nelson Mandela! Quanto mais sei dele, mas o admiro! O Poema é de um autor inglês de nome  William Ernest Henley ( 1849- 1903). Eis o Poema :

          Invictus                                                      
"Do fundo da noite que me envolve
Escura como o inferno de ponta a ponta
Agradeço a qualquer Deus que seja
Pela minha alma inconquistável

Nas garras do destino
Eu não vacilei nem chorei
Sob as pancadas do acaso
Minha cabeça está sangrenta, mas ereta

Além deste lugar tenebroso
Só se percebe o horror das trevas
E ainda assim, o tempo,
Encontra, e há de encontrar-me, destemido

Não importa quão estreito o portão
Nem quão pesado os ensinamentos
Eu sou o Senhor do meu destino
Eu sou o comandante da minha alma"
( William Ernest Henley )

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Amor

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.
O amor não possui
nem quer ser possuído.
Porque o amor
basta ao amor.
Quando amardes, não digais:
-Deus está no meu coração,
mas antes:- Eu estou no coração de Deus.
E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos julgar dignos,
marcará ele o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.
Mas se amardes, e tiverdes desejos,
deverão ser estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência
do amor, e sangrar
de bom grado e alegremente.
Acordar de manhã com um coração alado
e agradecer outro dia de amor.
Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.
Voltar a casa ao crepúsculo
com gratidão;
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado
e um canto de louvor na boca.

(  "O Profeta", de Khalil Gibran )

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Ainda te necessito!"

"Ainda não estou preparado para perder-te
Não estou preparado para ser só.
Ainda não estou preparado para crescer se me deixas
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.

Ainda não estou preparado para não te ter
e apenas te recordar
Ainda não estou preparado para não poder te olhar
ou não poder te falar.
Não estou preparado para que não me abraces
e para não poder te abraçar.

Ainda te necessito.

E ainda não estou preparado para caminhar
por este mundo perguntando-me: Por quê?
Não estou preparado hoje nem nunca o estarei.
Ainda te Necessito."



(Pablo Neruda)

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